quinta-feira, julho 01, 2010

R & J de novo

-Ora essa, arruinaram-se suas falas?

‘Atrevida’, Romeu pensou.

Julieta estava de pé a sua frente, um bosque escuro e úmido em volta. Noite fria e escura. Ele estava porcamente caído na grama, abraçado com paixão boêmia a uma caixa de absinto. Aterrorizado! De onde surgira aquele poder, aquela força, aquele sorriso que ele nunca imaginara em mulher nenhuma? Indescritível o quanto ele se sentia atraído a ela.

Ele observava os dedos finos, as unhas pontiagudas. Ela possuía cinco pequenos punhais em cada mão! Correndo pelo tecido nobre, um vestido puro e agora imundo da caminhada pela floresta e de suas intenções.

Ela tirou da primeira casa o primeiro botão.

-Serei eu quem começará nosso duelo de mentiras?

Segundo botão;

-Romeu, seu tolo, meu tolo.

Os botões, para infelicidade dele, iam do pescoço lindo até a cintura fina. Com apenas a luz do luar aos dois, ele pensava em dez, quinze gordos botões prendendo aquela inocência.

-Finja mais um pouco que suas promessas sussurradas ainda me manterão presa, daquele jeito fácil de antes.

Terceiro botão;

-Quem sabe um copo dessa sujeira que você tanto ama o faça mais esperto, uma vez na vida.

Quarto botão. Ela riu;

-Você sempre guardou essas garrafas com mais vontade do que o meu coração, e ele ainda sangrava quando eu o entreguei a você...

Quinto botão;

-Faça-me assistir a mais um milhão de pores-do-sol, me engane com seus olhares, e não me deixe nunca fugir desse sonho.

Sexto botão. A pele de seu colo, branco, já aparecia claramente.

-Esconda de novo e de todos que as suas vontades são de mim. Suspire o tempo todo, minta a cada lufada de ar que consumir.

Sétimo botão. Este foi o mais difícil para ela.

-Seja enfim o homem que você diz que eu mereço...

Um puxão acabou com os remanescentes. Agora Julieta também parecia sem escolha, intensamente próxima a ele. Sacudiu os braços. Vestido ao chão.

-... para que eu possa ser enfim a mulher que você não merece.