segunda-feira, novembro 03, 2008

Unhas, um exagero

Um texto que difere totalmente dos temas que eu costumo encarar. Fútil, não.

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A manicure, toda solícita, me encaixa em seu horário, entendendo minha situação quase desesperadora. Não é minha primeira vez fazendo as unhas, mas é a primeira vez tendo unhas compridas, que precisam passar por um ritual de beleza. E as minhas unhas mereciam um pouco mais de atenção.
Ela, particularmente, não é muito de conversar. Além de um simpático boa tarde e um por ali, me indicando sua sala separada das demais, acompanhados por sorrisos que mostravam dentes bonitos, não me disse mais nada. Então aproveitei para pegar uma ou duas revistas de fofoca pelo caminho, que me ajudariam a passar o tempo silencioso com suas abobrinhas hilariantes.
Ela me colocou sentada em uma cadeira enquanto pegava suas ferramentas de trabalho devidamente esterilizadas. Abriu a primeira gaveta de um gaveteiro do meu lado, e disse para eu ir escolhendo a cor do esmalte, para agilizar depois. Examinei os incontáveis vidrinhos com uma mão, já que ela tinha começado a lixar a outra. Estavam separados por marca, cor e ordem alfabética. São muitos, porém de cores extremamente escuras, coisa que ainda é forte demais para a primeira vez. Tenho uma certa timidez, e sem pedir ajuda nem me impôr à paleta totalmente emo, me contentei com um mais ou menos cinza, com um toque de rosa.
Ela, mesmo no silêncio, percebeu minha indecisão, abriu a gaveta de baixo. “Estes são os vermelhos escuros e médios”, me guiou pelo universo de cores, no meu ponto de vista todas iguais. Abriu mais algumas, todas igualmente lotadas, “Vermelhos claros, rosas escuros. Rosas médios, rosas claros. Brancos, com glitter. Secagem rápida, importados. Marrons, roxos. E esta, outras cores.”
Fiquei paralisada, sentindo no fundo uma vontade de rir de mim mesma, e me imaginando por um mar de esmaltes, à procura da cor perfeita. Não imaginava essa quantidade exorbitante. Disse para ela, como que pedindo uma dica, que não gosto de nada muito chamativo, algo claro. Com a experiência da profissão, escolheu rápido em uma gaveta alguns esmaltes que talvez me encantassem. Realmente, eles eram bonitinhos. Mas aí ela revelou meu mais terrível medo: nomes de esmaltes.
“Prefere mais ‘Rosa do Meio-Dia’ ou talvez‘Amor Encantado’?”
Eu disse um ‘hein?’ tão alto que ela sorriu, perdoando minha ignorância e falta de cultura (mas eu nunca entendi e nunca vou entender esses nomes que querem despertar em nossa mente cores impossíveis, e nunca vou os decorar).
Limitou minha escolha a dois vidrinhos. Fiz um uni-du-ni-tê mental e escolhi o da direita. Ela disfarçou para não torcer o nariz, pois certamente preferia o da esquerda.
Após passar por esfoliantes, massagens, hidratantes, lixas, alicates e pincéis, minhas mãos ficaram bem bonitas. Na verdade, a cor do esmalte era exatamente a que eu queria, que na pura sorte achei naquela exagerada selva de cores infinitas.